A meditação e a atenção são ambas grandes ferramentas para cultivar mais presença na nossa vida diária, mas antes mesmo de as considerarmos, precisamos de enfrentar o principal obstáculo que nos impede de nos mantermos presentes nos nossos pensamentos. Para nos tornarmos mais presentes, temos primeiro de compreender a mente e como ela funciona.

A Mente e Estar Presente

A fim de compreender os nossos pensamentos, pensemos primeiro neles como funções informáticas. Um computador tem entrada (teclado, rato, touchpad), um processador, um disco rígido para armazenar informação, e um visor. Para que um pensamento possa ser formado, é necessário input.

Recebemos entradas através dos nossos cinco sentidos: audição, visão, paladar, tacto e olfacto – tudo isto é continuamente desencadeado pelo ambiente, tal como um computador.

Vejamos qual é o principal desafio para nós no momento presente – os nossos pensamentos. Mas como é que surge um pensamento?

Pense nos nossos sentidos como o teclado e o rato. O teclado e o rato recebem a entrada e esta vai para a Unidade Central de Processamento (CPU). A CPU processa a informação. A CPU é comparada ao ego, intelecto e subconsciente. Quando percebemos algo com os nossos sentidos, é como um input no nosso sistema.

Pense desta forma, o resultado do processamento é que uma imagem aparecerá no ecrã do computador. O nosso computador humano processa o input e cria um pensamento. Mais uma vez, o nosso processador mental consiste no ego, no intelecto e no nosso subconsciente. Mas, a condição ou a programação destes três componentes está relacionada com a saída. Isto significa que duas pessoas podem perceber a coisa exacta através dos seus sentidos, mas os seus pensamentos sobre essa coisa não serão os mesmos.

O processo de estar presente

Vamos passar por um exemplo para compreender melhor isto. Imagine que passa por uma loja de doces e vê (input sensorial) um bolo de maçã doce na vitrine e assim que vê que os doces se aplicam, os seus processos internos (e em grande parte inconscientes) começam. A impressão da maçã doce é processada pelo seu CPU (este processador mental), que é composto pelo ego, intelecto, e subconsciente.

O que são exactamente o ego, o intelecto e o subconsciente?

O ego é a ideia do eu tal como os seus gostos e aversões e outras ideias de como se vê a si próprio.

O intelecto é a sua capacidade de pensar, raciocinar e analisar.

Pode pensar no subconsciente como o seu banco de memória. As memórias subconscientes começam mesmo quando se está no ventre. Sim, podemos não ser capazes de aceder a estas memórias, mas elas são armazenadas neste banco de memórias.

Como é que o ego se expressa?

O ego pode dizer: “Eu gosto de maçãs doces”. Depois disso, o intelecto poderá responder que tem dinheiro suficiente para comprar a maçã. Então o subconsciente dir-lhe-á que a última vez que comeu uma maçã doce ela sabia bem.

Isto acontece num milissegundo, e ao ver a maçã doce, é criada a ideia de parar e comprar a maçã. Mas, esta situação pode ser diferente. Digamos que, em vez disso, é um brownie de chocolate. Mais uma vez, a entrada fornece-lhe informações. Irá ver e sentir o cheiro de um brownie de chocolate. A informação vai para o seu ego, mas sabe que não gosta muito de brownies de chocolate. O teu intelecto diz que não queres separar-te do teu dinheiro em algo que não te faz cócegas e o teu subconsciente irá informar-te que a última vez que comeste um brownie de chocolate não foi satisfatório. O pensamento é criado: “Eu não gosto de brownies de chocolate e por isso não o quero”.

Estes exemplos da maçã doce e do brownie de chocolate são simples, mas explicam como se cria um pensamento. Um pensamento levará a outro e o pensamento seguinte levará ao próximo, resultando num pacote de pensamentos.

Um grande número de pensamentos é desencadeado por input sensorial, mas muitos também são desencadeados por pensamentos anteriores. Este é um processo contínuo, e qualquer pessoa que tenha tentado ficar sem um pensamento – mesmo por um momento – sabe como pode ser um desafio. Contudo, é possível tornar-se mais presente e mais sereno aqui e agora, se conseguirmos compreender o que é a mente e como ela funciona.

De acordo com a filosofia iogica, a mente é um feixe de pensamentos. Sejamos claros que a mente não é o seu ego, nem o seu intelecto e nem o seu subconsciente. A mente não tem uma localização física dentro do corpo – pensem nela como uma colecção de todos os vossos pensamentos. Portanto, para controlar a mente, temos de aprender a controlar a criação dos pensamentos.

Cinco passos para estar mais presente na sua vida diária

Então como controlamos a criação de pensamentos para que possamos estar mais presentes?

1.  Chegar à Fonte

Um pensamento resulta dos contributos dos sentidos. É processado pelo ego, intelecto, e subconsciente. Se quisermos controlar a mente, temos primeiro de diminuir as entradas dos sentidos.

A seguir, podemos aprender a ignorar todos os inputs que não são necessários. Embora seja verdade que não podemos desligar os nossos sentidos, podemos treinar-nos para não sermos controlados ou influenciados por inputs sensoriais. Desta forma, tornamo-nos cada vez menos apegados aos prazeres sensoriais do mundo.

2.  Ir para além das limitações

O nosso objectivo é libertarmo-nos do apego ao nosso ego com os seus gostos e aversões. Também, ao nosso intelecto. Em primeiro lugar, soltar o ego desligando-nos das ideias sobre nós próprios e também dos outros. Ter a mente aberta e considerar outras e novas formas de pensar.

Em segundo lugar, deixar ir o intelecto significa compreender as suas limitações. Lembre-se, o intelecto está limitado ao que já sabe.

Se o intelecto não tem uma ligação prévia a um pensamento, não pode compreender e analisar esse pensamento. E assim, para se tornar mais ligado ao momento presente, tente não analisar tudo de acordo com o que já sabe.

3.  Abrandar

Dominar este processo é uma habilidade e simplesmente não pode acontecer da noite para o dia. Encorajadoramente, ao praticar esta habilidade, verá a sua vida mudar positivamente. Pratique a consciência destes conceitos e continue a aplicá-los à sua melhor capacidade, e progredirá.

4.  Aplicação de Práticas Espirituais

Neste ponto, podemos começar a praticar meditação e Pratyahara (limitando o input sensorial) para ganhar controlo sobre a mente. Tal como com um computador, a imagem (pensamento) é criada pelo input sensorial. A prática do Pratyahara irá ajudá-lo a limitar e a remover estas distracções.

A prática da meditação pode ajudá-lo a desligar-se do ego, intelecto, e subconsciente.

5.  Manter-se atento

Para começar, praticar meditação concentrando-se num objecto durante um curto período de tempo.

Quando se distrair durante a sua prática de meditação, volte suavemente a concentrar-se no objecto de concentração. Uma excelente forma é usar a sua respiração como objecto de concentração. É uma das coisas mais fáceis a que se pode voltar!

Observe que quanto mais praticar isto, mais irá descobrir que pode escolher quais os pensamentos a entreter e quais os que deve deixar ir. Em última análise, verá que não é o seu pensamento, mas que na realidade está acima dele.

Como estar mais presente: Takeaways

Após algum tempo de prática da retirada sensorial (Pratyahara) e desapego ao seu computador humano (composto pelo ego, intelecto e subconsciente), sentir-se-á mais ligado a si próprio e ao mundo.

Será capaz de se concentrar no que é importante para si, em vez de se deixar distrair por todos os inputs sensoriais que nos atormentam todos os dias. Mantenha-se nesta prática e tornar-se-á cada vez mais presente, o que o beneficiará grandemente e reflectirá na sua vida quotidiana.

Lembre-se de que este é um processo, ganhe uma compreensão do que é a mente e como ela funciona. Depois, pode praticar o desapego ao ego e ao intelecto com paciência. Acabará por se preparar para a prática da meditação e Pratyahara (limitando o input sensorial). Tudo isto lhe permite estar mais presente e atento.

Tal como nos Yoga Sutras de Patanjali, yoga é a cessação dos movimentos da mente (Yoga Sutras 1:2).

Mantenha-se com esta prática, lenta e diariamente para colher os seus benefícios. Com tempo e esforço, controle o seu próprio processador mental e esteja presente, atento e mestre da sua vida!

Sobre o autor

Nascido numa família jainista onde o ioga tem sido o modo de vida há cinco gerações, o meu percurso formal no ioga começou aos oito anos de idade numa escola védica na Índia. Aí recebi uma base sólida em escrituras antigas, incluindo Vedas, Upanishads, Bhagavad Gita e Yoga Sutras (para citar alguns).

Em 2009, fundei o Arhanta Yoga Ashrams. Vejo o yoga como uma forma de dominar os cinco sentidos, por isso chamei aos nossos ashrams "Arhanta Yoga", o yoga para dominar os cinco sentidos!

Em 2017, fundei também Arhanta Yoga Online Academy para que as pessoas que não podem visitar os nossos ashrams possam seguir os nossos cursos à distância.

No Arhanta, não nos limitamos a ensinar yoga. Ensinamos-lhe a atingir o seu potencial, a aprofundar os seus conhecimentos, a construir a sua confiança e a tomar conta da sua vida.